A FOLHA E O VENTO


 

                    Era uma vez uma linda folha. Dessas viçosas folhas que embora endurecidas pelo tempo, refletem em seu verde a doce esperança que nos embala a alma.

                   Vivia presa ao seu caule, contemplando todos os movimentos ao seu redor. Ouvia o gorjeio dos pássaros e se deliciava com os macios pingos de chuva, que quando caíam, banhavam o seu lindo dorso. Levava vida sedentária, quase estática, mas feliz.

                  Mas o vento que tudo arrasta e carrega, veio sorrateiramente induzir-lhe a uma infeliz jornada.     O vento começou assobiando ao seu redor.   Depois, com voz macia, melodiosa mesmo, começou a sedução.

                  Vem comigo, linda folha, que eu ensino você a dançar.  Vem!  Vamos ver um novo mundo!     Não fica aí estática.  Venha comigo que eu mostro-lhe como o mundo é doce e belo!.

                  E rodopiando, rodopiando, cantarolando sempre, o vento foi seduzindo a folha, que empolgada, via outras folhas nas asas do vento, cantando e bailando, livres e soltas pelo ar.

                   Então a folha desprendeu-se de seu velho e amigo tronco para aventurar-se nas asas do vento, por novos mundos, em busca de emoções mais fortes.

                  No início, sentiu-se embriagada de tanta liberdade. Avistava, maravilhada, um mundo diferente, tal como lhe dissera o vento. Na volúpia de tal viagem, esqueceu a folha até mesmo de sua elementar função junto ao todo da árvore, que lhe emprestara a vida. Mas aos pouco a folha foi  perdendo  altura, baixando cada vez mais, totalmente desequilibrada, até cair  em um pantanal  lodoso, úmido, frio e lamacento.       Então a folha clamou por seu bom amigo, o vento.    Vento, venha me buscar!. Vento, onde você está que não o vejo ?     Vento, você não se lembra mais de mim?.   Por favor, por piedade retire-me daqui!.   Mas o vento não mais a ouviu. O vento estava longe, arrancando outras folhas, seduzindo outros arbustos, em seu infinito rumo de incertezas.

                 Percebeu bem tarde, a folha, o quanto havia perdido, desde o seu  ímpeto desejo de ser mais que uma simples folha. Pagaria bem caro o desejo de ser mais que um adendo de planta.

                 Pobre de nossa juventude!.

                Quantos jovens, verdes e encantadores como a folha  de nossa narrativa, são arrancados do seio familiar e atirados  em um lamaçal mais lodoso, mais pavoroso, mais mesquinho, muito mais cruel que o pântano  da folha perdida  e seduzida pelo vento.    Também, nossos jovens, crianças até, são seduzidos  por um vento maldito chamado  D R O G A S “.   Tal vento sopra com veemência, nos quatro cantos do mundo, em todos os paralelos do Brasil, em todas as cidades de nosso Estado, nos campus das faculdades, nos pátios das escolas, nos guetos e nas favelas, nas praças e jardins  de nossas melhores cidades  e em muitos lares brasileiros. 

               No mundo conturbado em que estamos vivendo e nos dias de hoje, com tantos arrochos na vida brasileira, estamos sempre ocupados e sempre atropelados pelos negócios que não dá para pararmos um pouquinho e pensarmos sobre o nosso filho.

               Uma  coisa é certa. Nunca admitimos que o nosso filho possa ser um dos seduzidos por  este maldito vento e que corre o risco de se transformar  em um drogado.

              Que tal se parasse um pouquinho e pensássemos  sobre isto ?

               Talvez pudéssemos bradar ou afugentar tal vento.

               Talvez seu filho esteja precisando de você, pai, agora, antes que seja tarde demais.

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